Dei-me dois pedaços de pizza hut de bacon e um guaraná antartica bem geladooooo....e um sorvete de tapioca, e mais este filme e eu faço a festa! :)
Lester Burham (Kevin Spacey) não aguenta mais o emprego e se sente impotente perante sua vida. Casado com Carolyn (Annette Bening) e pai da "aborrecente" Jane (Tora Birch), o melhor momento de seu dia quando se masturba no chuveiro. Até que conhece Angela Hayes (Mena Suvari), amiga de Jane. Encantado com sua beleza e disposto a dar a volta por cima, Lester pede demissão e começa a reconstruir sua vida, com a ajuda de seu vizinho Ricky (Wes Bentley).
ANÁLISE DO FILME BELEZA AMERICANA
Por: Sophia Vettorazzo
O filme Beleza Americana, de 1999, vencedor de cinco Oscars (incluindo melhor filme), traz uma trama com relações complexas e um fundo baseado na cultura do narcisismo Norte-Americana, onde “tudo é possível.”
O filme conta a história de Lester Burnham, sua mulher Carolyn e sua filha Jane. A família Burnham parece ser uma típica e feliz família americana, com uma mulher sociável e prestativa, um homem trabalhador e uma filha adolescente normal. Como cenário apresenta-se um bairro muito bem estruturado de aparências. A casa arrumada, com o sofá italiano, a porta vermelha, e as perfeitas rosas do jardim. Entretanto, já o subtítulo do filme nos convida a olhar um pouco melhor, por detrás de todas essas aparências: “Olhe bem de perto...”
Pela extensão de interpretações e símbolos que nos possibilitam uma ampla crítica da sociedade ocidental narcisista e consumista, me reterei, nesta reflexão, à análise das relações parentais entre a família Burnham, e seus vizinhos, a família Fitts.
O filme conta a história de Lester Burnham, sua mulher Carolyn e sua filha Jane. A família Burnham parece ser uma típica e feliz família americana, com uma mulher sociável e prestativa, um homem trabalhador e uma filha adolescente normal. Como cenário apresenta-se um bairro muito bem estruturado de aparências. A casa arrumada, com o sofá italiano, a porta vermelha, e as perfeitas rosas do jardim. Entretanto, já o subtítulo do filme nos convida a olhar um pouco melhor, por detrás de todas essas aparências: “Olhe bem de perto...”
Pela extensão de interpretações e símbolos que nos possibilitam uma ampla crítica da sociedade ocidental narcisista e consumista, me reterei, nesta reflexão, à análise das relações parentais entre a família Burnham, e seus vizinhos, a família Fitts.
Família Fitts
A família Fitts é recém-chegada no bairro. Ela é composta pelo rígido e autoritário Coronel Frank Fitts, fuzileiro naval, seu filho Rick, e sua apática mulher (a qual permanece sem nome durante todo o filme). Coronel Fitts é um pai severo, extremamente duro e pouco caloroso. É quem dita as regras, quem fala alto e a quem deve ser dirigido como Senhor. Ele é “Senhor”, a grande autoridade que deve ser respeitada acima de tudo. Seu filho Rick, é um jovem que trafica drogas, mascarando que o lucro obtido vem de empregos como garçom, atividade aprovada pelo pai. Ele é um jovem bastante isolado, totalmente esmagado pelo pai e suas regras, e com uma grande fissuração pela vida alheia. Rick retrata-se apático como a mãe, meio indiferente, como se estivesse alienado de suas emoções e sofrimentos. Desta maneira, filma a vida dos outros, enxergando conflitos por detrás das janelas, como uma tentativa inútil de entrar em contato com algo vivo, algo sentido.
Rick obedece ao pai, e ao mesmo tempo em que o receia parece manter uma grande dependência de sua aprovação, disfarçada por sua rebeldia quieta. Não é difícil perceber um nítido complexo paterno negativo de Rick com seu pai. Nas palavras de Verena Kast (1997, p. 178), é como se:
A família Fitts é recém-chegada no bairro. Ela é composta pelo rígido e autoritário Coronel Frank Fitts, fuzileiro naval, seu filho Rick, e sua apática mulher (a qual permanece sem nome durante todo o filme). Coronel Fitts é um pai severo, extremamente duro e pouco caloroso. É quem dita as regras, quem fala alto e a quem deve ser dirigido como Senhor. Ele é “Senhor”, a grande autoridade que deve ser respeitada acima de tudo. Seu filho Rick, é um jovem que trafica drogas, mascarando que o lucro obtido vem de empregos como garçom, atividade aprovada pelo pai. Ele é um jovem bastante isolado, totalmente esmagado pelo pai e suas regras, e com uma grande fissuração pela vida alheia. Rick retrata-se apático como a mãe, meio indiferente, como se estivesse alienado de suas emoções e sofrimentos. Desta maneira, filma a vida dos outros, enxergando conflitos por detrás das janelas, como uma tentativa inútil de entrar em contato com algo vivo, algo sentido.
Rick obedece ao pai, e ao mesmo tempo em que o receia parece manter uma grande dependência de sua aprovação, disfarçada por sua rebeldia quieta. Não é difícil perceber um nítido complexo paterno negativo de Rick com seu pai. Nas palavras de Verena Kast (1997, p. 178), é como se:
O menino poderia a qualquer hora ser triturado pelo grande pai, de que é absolutamente dependente dele quanto ao direito da existência e que poderia ser apagado a qualquer momento.
As recusas e broncas do pai o fazem sentir-se nulo, largado à solidão e excluído de existência. A mãe de Rick, que de tão apática e indiferente nem nome possui, não traz amparo ao desconsolo do filho. Assim, a única maneira de defender-se da dor é tornar-se realmente nulo - como o pai o coloca -, e viver alienando sua dor nas drogas e nas filmagens de conflitos que não são os dele.
Todas as vezes que Rick procurou outros caminhos, que fossem exclusivos, e que nada correspondessem com as regras do pai, ele foi rápida e severamente reprimido. Fracassava mesmo quando agia copiando as atitudes paternas. Não existia possibilidade de êxito, e ele estava preso como um receptor de ordens. Assim, Rick nunca fora encorajado a seguir um caminho próprio, mas sempre aquele que o pai lhe preparou. E mesmo que este caminho escolhido pelo pai fosse aparentemente um cuidado, como o próprio Coronel Frank afirma em uma das cenas: “Isso é para o seu bem, garoto”, a verdade é que se esconde um narcisismo constituinte que não permite o reconhecimento do outro.
O quarto de Rick deve estar sempre de portas abertas para que o pai tenha controle do que acontece. É o pai quem decidiu colocar o filho em uma escola militar, e depois o internou em um hospício como coerção em resposta a um episódio em que Rick espanca um colega de classe. Ora, ele estava fazendo exatamente o que o pai fazia com ele para impor respeito: bater foi o que aprendeu em casa. E assim, mesmo quando o copia, nunca é suficiente, está sempre errado. O incidente com o colega - por uma causa banal -, aconteceu logo após uma séria discussão entre pai e filho, seguida de uma surra. Rick bateu no colega da mesma maneira que apanhou do pai. Acrescenta: “Queria matá-lo”, sendo esta uma nítida alusão ao sentimento de ódio e de vontade de esmagar, de matar o pai devorador.
Em meio a tanto receio e repressão, Rick esconde de todos e de si a admiração que tem pelo pai. Esse sentimento fica claro quando leva sua namorada Jane para conhecer o lugar preferido de seu pai, que é uma salinha repleta de armas e com uma preciosidade guardada com muito zelo pelo Coronel: um prato com o símbolo nazista. Talvez não houvesse símbolo melhor para representar este pai controlador e tirânico.
Verena Kast (1997, p. 184) apresenta uma possibilidade de tentar salvar-se dessa situação, afirmando: “Uma das possibilidades consistiria em procurar relacionamentos com outras pessoas”, um caminho viável para Rick. O relacionamento do jovem com a namorada Jane (que não por acaso é outra personagem que sofre de um complexo negativo paterno, como veremos adiante) abre uma fresta para que Rick torne-se menos distante, mais humano, mais próximo de relações e sentimentos, e, conseqüentemente, menos esmagado pelo grande pai. Jane encoraja sua liberdade, sua rebeldia escondida. Assim como na mitologia, a maneira de derrotar o pai devorador vem de um ato revolucionário do filho, visto em Cronos em sua sangrenta vitória contra seu pai Urano.
No último episódio de briga e confronto físico e verbal entre Rick e o Coronel Frank algo muda. O pai agride o filho por achar que este é homossexual. A paranóia do Coronel Frank com o homossexualismo pode ser enxergada como identificação dele com a confusão de identidade do filho, já que ambos provavelmente passaram pelo mesmo complexo paterno negativo, suprimindo todas as indecisões e confusões comuns em decorrência das rígidas regras e exigências parentais. Creio que aqui o homossexualismo - além de ser um claro símbolo do narcisismo -, aparece não tanto no sentido de opção sexual, mas de reconhecimento do outro, de espaço para o crescimento da individualidade e da criatividade, enxergando o outro em sua peculiaridade.
Coronel Frank diz ao filho: “Prefiro ver você morto do que bicha”. Essa frase parece ter grande impacto em Rick, como se nesse instante houvesse realmente uma morte; não uma morte física, mas simbólica, da submissão e dependência paterna. Rick, pela primeira vez, encara o pai, diz ser tudo o que o pai mais rejeita (mesmo sendo mentira) e decide sair de casa. É claro que tornar-se completamente o oposto do desejo do pai não significa que o complexo paterno esteja resolvido, entretanto indica um possível inicio de elaboração.
A última surra do pai abre a porta para a elaboração de uma individualidade. Embora o complexo não seja resolvido completamente, de uma hora para outra, ele não mais rege a vida do filho. O filho cria certa liberdade de se ver distinto das exigências paternas, sem que isso o condene à não-existência. Ele pode sentir-se vivo, existir em sua peculiaridade, embora as marcas do complexo paterno continuem tatuados em sua pele; como afirma Pereira Lima, citando Bly:
Todas as vezes que Rick procurou outros caminhos, que fossem exclusivos, e que nada correspondessem com as regras do pai, ele foi rápida e severamente reprimido. Fracassava mesmo quando agia copiando as atitudes paternas. Não existia possibilidade de êxito, e ele estava preso como um receptor de ordens. Assim, Rick nunca fora encorajado a seguir um caminho próprio, mas sempre aquele que o pai lhe preparou. E mesmo que este caminho escolhido pelo pai fosse aparentemente um cuidado, como o próprio Coronel Frank afirma em uma das cenas: “Isso é para o seu bem, garoto”, a verdade é que se esconde um narcisismo constituinte que não permite o reconhecimento do outro.
O quarto de Rick deve estar sempre de portas abertas para que o pai tenha controle do que acontece. É o pai quem decidiu colocar o filho em uma escola militar, e depois o internou em um hospício como coerção em resposta a um episódio em que Rick espanca um colega de classe. Ora, ele estava fazendo exatamente o que o pai fazia com ele para impor respeito: bater foi o que aprendeu em casa. E assim, mesmo quando o copia, nunca é suficiente, está sempre errado. O incidente com o colega - por uma causa banal -, aconteceu logo após uma séria discussão entre pai e filho, seguida de uma surra. Rick bateu no colega da mesma maneira que apanhou do pai. Acrescenta: “Queria matá-lo”, sendo esta uma nítida alusão ao sentimento de ódio e de vontade de esmagar, de matar o pai devorador.
Em meio a tanto receio e repressão, Rick esconde de todos e de si a admiração que tem pelo pai. Esse sentimento fica claro quando leva sua namorada Jane para conhecer o lugar preferido de seu pai, que é uma salinha repleta de armas e com uma preciosidade guardada com muito zelo pelo Coronel: um prato com o símbolo nazista. Talvez não houvesse símbolo melhor para representar este pai controlador e tirânico.
Verena Kast (1997, p. 184) apresenta uma possibilidade de tentar salvar-se dessa situação, afirmando: “Uma das possibilidades consistiria em procurar relacionamentos com outras pessoas”, um caminho viável para Rick. O relacionamento do jovem com a namorada Jane (que não por acaso é outra personagem que sofre de um complexo negativo paterno, como veremos adiante) abre uma fresta para que Rick torne-se menos distante, mais humano, mais próximo de relações e sentimentos, e, conseqüentemente, menos esmagado pelo grande pai. Jane encoraja sua liberdade, sua rebeldia escondida. Assim como na mitologia, a maneira de derrotar o pai devorador vem de um ato revolucionário do filho, visto em Cronos em sua sangrenta vitória contra seu pai Urano.
No último episódio de briga e confronto físico e verbal entre Rick e o Coronel Frank algo muda. O pai agride o filho por achar que este é homossexual. A paranóia do Coronel Frank com o homossexualismo pode ser enxergada como identificação dele com a confusão de identidade do filho, já que ambos provavelmente passaram pelo mesmo complexo paterno negativo, suprimindo todas as indecisões e confusões comuns em decorrência das rígidas regras e exigências parentais. Creio que aqui o homossexualismo - além de ser um claro símbolo do narcisismo -, aparece não tanto no sentido de opção sexual, mas de reconhecimento do outro, de espaço para o crescimento da individualidade e da criatividade, enxergando o outro em sua peculiaridade.
Coronel Frank diz ao filho: “Prefiro ver você morto do que bicha”. Essa frase parece ter grande impacto em Rick, como se nesse instante houvesse realmente uma morte; não uma morte física, mas simbólica, da submissão e dependência paterna. Rick, pela primeira vez, encara o pai, diz ser tudo o que o pai mais rejeita (mesmo sendo mentira) e decide sair de casa. É claro que tornar-se completamente o oposto do desejo do pai não significa que o complexo paterno esteja resolvido, entretanto indica um possível inicio de elaboração.
A última surra do pai abre a porta para a elaboração de uma individualidade. Embora o complexo não seja resolvido completamente, de uma hora para outra, ele não mais rege a vida do filho. O filho cria certa liberdade de se ver distinto das exigências paternas, sem que isso o condene à não-existência. Ele pode sentir-se vivo, existir em sua peculiaridade, embora as marcas do complexo paterno continuem tatuados em sua pele; como afirma Pereira Lima, citando Bly:
Quase todo o homem se lembra do momento do golpe. Assim, esse acontecimento parece ser parte do material pai-filho: o pai dá o golpe, o filho o recebe. E o menino se lembra desse ferimento durante anos. (BLY apud PEREIRA, 2002, p. 293).
Família Burnham
A família Burnham, protagonista do filme, é uma família de aparências. Tudo está certo enquanto tudo parecer certo. Entretanto, as imagens não refletem exatamente o que acontece.
Lester Burnham é um pai cansado, invisível, que se declama “morto”. Diz que sua filha Jane, e sua mulher Carolyn o acham um fracassado. Ele trabalha em uma companhia de publicidade há muitos anos, mantém um casamento de aparências com Carolyn. Carolyn é uma narcisista corretora de imóveis que carrega como sua maior preocupação o dever de passar a imagem de uma família feliz e de sucesso. Mas não é isso que acontece.
Talvez, quem mais sofra nessa família de aparências seja a filha adolescente Jane. Completamente perdida, insegura e confusa, ela guarda mágoa e vergonha dos pais, que cercados de narcisismo não conseguem enxergá-la, muito menos acolhê-la em seu desamparo.
Durante o filme, o pai Lester é despertado pela vida por meio de um desejo sexual por uma amiga de Jane. A partir daí ele começa uma jornada de rebeldia e melancolia pela sua juventude perdida, tornando-se visível, e não enxergando nenhuma outra pessoa. Assim, desconsidera as aflições e medos de Jane, e não vê o que suas atitudes causam em sua filha confusa e só.
O filme começa com as seguintes falas de Jane: “Preciso de um pai que dê exemplo, não de um idiota que fica excitado toda a vez que trago uma amiga da escola. Que imbecil!”. No decorrer do filme completa ao referir-se a amiga pela qual o pai nutre um forte desejo sexual: “Seria legal se eu fosse importante para ele como ela é [...] Eu também preciso de estrutura e disciplina.”
Fica claro o apelo de Jane por ser enxergada pelos pais, principalmente pelo pai. Por não ser vista, acolhida, ela torna-se insegura, quieta, com baixa auto-estima, como se realmente existisse apenas sua reflexão no espelho, a imagem da filha de um casal perfeito e feliz. Ela de fato não existe. Seus sentimentos, desejos e dúvidas não são ouvidos. Sua existência exige desesperadamente o reconhecimento dos pais.
A família Burnham, protagonista do filme, é uma família de aparências. Tudo está certo enquanto tudo parecer certo. Entretanto, as imagens não refletem exatamente o que acontece.
Lester Burnham é um pai cansado, invisível, que se declama “morto”. Diz que sua filha Jane, e sua mulher Carolyn o acham um fracassado. Ele trabalha em uma companhia de publicidade há muitos anos, mantém um casamento de aparências com Carolyn. Carolyn é uma narcisista corretora de imóveis que carrega como sua maior preocupação o dever de passar a imagem de uma família feliz e de sucesso. Mas não é isso que acontece.
Talvez, quem mais sofra nessa família de aparências seja a filha adolescente Jane. Completamente perdida, insegura e confusa, ela guarda mágoa e vergonha dos pais, que cercados de narcisismo não conseguem enxergá-la, muito menos acolhê-la em seu desamparo.
Durante o filme, o pai Lester é despertado pela vida por meio de um desejo sexual por uma amiga de Jane. A partir daí ele começa uma jornada de rebeldia e melancolia pela sua juventude perdida, tornando-se visível, e não enxergando nenhuma outra pessoa. Assim, desconsidera as aflições e medos de Jane, e não vê o que suas atitudes causam em sua filha confusa e só.
O filme começa com as seguintes falas de Jane: “Preciso de um pai que dê exemplo, não de um idiota que fica excitado toda a vez que trago uma amiga da escola. Que imbecil!”. No decorrer do filme completa ao referir-se a amiga pela qual o pai nutre um forte desejo sexual: “Seria legal se eu fosse importante para ele como ela é [...] Eu também preciso de estrutura e disciplina.”
Fica claro o apelo de Jane por ser enxergada pelos pais, principalmente pelo pai. Por não ser vista, acolhida, ela torna-se insegura, quieta, com baixa auto-estima, como se realmente existisse apenas sua reflexão no espelho, a imagem da filha de um casal perfeito e feliz. Ela de fato não existe. Seus sentimentos, desejos e dúvidas não são ouvidos. Sua existência exige desesperadamente o reconhecimento dos pais.
Fierz(1197) vê a hipocrisia parental como perigosa e disfuncional e destaca duas modalidades: o egoísmo dos pais, muitas vezes sutil e difícil de ser percebido, e a “falsa excelência”. No primeiro caso, o discurso parental afirma que algo está sendo realizado a serviço dos filhos, quando, na verdade, os interesses dos pais é que são atendidos. (PEREIRA, 2002, p. 290).
A citação acima explica claramente o complexo de Jane. O que importa para a mãe é a imagem da família, o que importa para o pai é o desejo pela amiga, desconsiderando os sentimentos que podem ser gerados em Jane. Dessa maneira, são apenas aparências mas, se olharmos de perto, veremos que os interesses são meramente dos pais e que a filha não é reconhecida como um sujeito, cheio de angústias e desejos.
O conflito com a mãe é conseqüência clara de uma mulher representante de uma sociedade capitalista ocidental, feita de imagens, na qual o sucesso é pré-condição, e “tudo é possível”. Tudo que a mãe tenta fazer é ocultar os problemas da família, criando imagens falsas de sucesso e felicidade. De acordo com Pereira Lima Filho (2002, p. 291):
O conflito com a mãe é conseqüência clara de uma mulher representante de uma sociedade capitalista ocidental, feita de imagens, na qual o sucesso é pré-condição, e “tudo é possível”. Tudo que a mãe tenta fazer é ocultar os problemas da família, criando imagens falsas de sucesso e felicidade. De acordo com Pereira Lima Filho (2002, p. 291):
São tentativas de fazer parecer que a família é harmoniosa, em atendimento a valores que buscam preservar a imagem familiar em detrimento da saúde emocional dos membros.
A relação da mãe é composta por “momentos Kodak”, como diz a própria personagem Jane. Entretanto, vamos nos nos reter mais no complexo paterno. Jane grita por colo, por estrutura e disciplina. Ora, o pai é o símbolo da Lei, da estrutura, da identificação, da inserção na cultura e da elaboração de uma singularidade. Jane sente a ausência de pai, a falta de base. O pai é por demais liberal, sem regras, sem enxergá-la. Fica fissurado pela juventude e beleza - americana - da amiga de Jane, mas não pensa na repercussão que isso pode ter na filha. Jane inveja a amiga pelo simples fato de seu pai atribuir certa importância a ela; importância que não é direcionada à filha. Jane fica como solta na confusão e rebeldia do pai, e na quebra do narcisismo perfeito da mãe.
Ironicamente, nos últimos momentos de sua vida é que Lester “acorda” de seu “surto” e enxerga a filha. Após a desmistificação da amiga, da sedutora beleza americana, ele projeta nela sentimentos paternais acolhendo as inseguranças da menina, e enxergando-a não como objeto, e sim como sujeito. E então pergunta pela filha. Pergunta como Jane está, se é feliz. Reconhece-a.
A alternativa que Jane encontra para lidar com seus complexos (tanto paternal como maternal) é a relação com seu vizinho, e depois namorado, Rick. Por meio dele ela se vê enxergada, filmada, reconhecida. Pode-se entender como existente. Pode suprir sua insegurança e baixa estima, e até procurar construir uma base segura.
Ironicamente, nos últimos momentos de sua vida é que Lester “acorda” de seu “surto” e enxerga a filha. Após a desmistificação da amiga, da sedutora beleza americana, ele projeta nela sentimentos paternais acolhendo as inseguranças da menina, e enxergando-a não como objeto, e sim como sujeito. E então pergunta pela filha. Pergunta como Jane está, se é feliz. Reconhece-a.
A alternativa que Jane encontra para lidar com seus complexos (tanto paternal como maternal) é a relação com seu vizinho, e depois namorado, Rick. Por meio dele ela se vê enxergada, filmada, reconhecida. Pode-se entender como existente. Pode suprir sua insegurança e baixa estima, e até procurar construir uma base segura.
As famílias
É possível uma clara comparação entre as famílias Fitts e Burnham. Ambas são faces da mesma moeda, no caso uma moeda americana, fruto do capitalismo e narcisismo das sociedades ocidentais.
Nas duas famílias existe um forte complexo paterno que aprisiona seus filhos adolescentes. Esses complexos são conseqüentes de dois pais opostos: um por demais liberal, e o outro muito autoritário, mas que, se olharmos, mais uma vez, bem de perto, enxergaremos as grandes semelhanças entre os dois.
Sejam eles autoritários ou liberais, ambos são pais narcisistas que não reconhecem o filho como um outro. Com regras demais impõem exigências e expectativas que impossibilitam o desenvolvimento de seus filhos; ou por falta completa de suporte e Leis, abandonam os filhos, cheios de inseguranças e vazios de estrutura.
As mães são opostas, mas também falham no suporte aos filhos. Uma é narcisista demais, enxergando apenas imagens e nunca o palpável; e a outra é tão apática, sofrida e distante, que não consegue lidar nem com sua dor, muito menos com o acolhimento do penar do filho.
O interessante é que os filhos, sofridos desses complexos, encontram um no outro uma possibilidade. Sim, uma possibilidade não de exterminação do conflito, mas de elaboração, de criatividade, de reconhecimento e de desenvolvimento de suas singularidades.
É possível uma clara comparação entre as famílias Fitts e Burnham. Ambas são faces da mesma moeda, no caso uma moeda americana, fruto do capitalismo e narcisismo das sociedades ocidentais.
Nas duas famílias existe um forte complexo paterno que aprisiona seus filhos adolescentes. Esses complexos são conseqüentes de dois pais opostos: um por demais liberal, e o outro muito autoritário, mas que, se olharmos, mais uma vez, bem de perto, enxergaremos as grandes semelhanças entre os dois.
Sejam eles autoritários ou liberais, ambos são pais narcisistas que não reconhecem o filho como um outro. Com regras demais impõem exigências e expectativas que impossibilitam o desenvolvimento de seus filhos; ou por falta completa de suporte e Leis, abandonam os filhos, cheios de inseguranças e vazios de estrutura.
As mães são opostas, mas também falham no suporte aos filhos. Uma é narcisista demais, enxergando apenas imagens e nunca o palpável; e a outra é tão apática, sofrida e distante, que não consegue lidar nem com sua dor, muito menos com o acolhimento do penar do filho.
O interessante é que os filhos, sofridos desses complexos, encontram um no outro uma possibilidade. Sim, uma possibilidade não de exterminação do conflito, mas de elaboração, de criatividade, de reconhecimento e de desenvolvimento de suas singularidades.
REFERÊNCIAS
BEAUTY American. Direção: Sam Mendes. Produzido por: Bruce Cohen e Dan Jinks. Dreamworks Pictures,1999. DVD (121 min). Wide Screen, Color. Escrito por: Alan Ball.
KAST, V. Pais e filhas, mães e filhos: caminhos para a auto-identidade a partir dos complexos paternos e maternos. São Paulo: Loyola, 1997.
PEREIRA F. A. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2002.
VITALE, A et al: Pais e mães: seis estudos sobre o fundamento arquetípico da psicologia da família. São Paulo: Símbolo, 1979.
BEAUTY American. Direção: Sam Mendes. Produzido por: Bruce Cohen e Dan Jinks. Dreamworks Pictures,1999. DVD (121 min). Wide Screen, Color. Escrito por: Alan Ball.
KAST, V. Pais e filhas, mães e filhos: caminhos para a auto-identidade a partir dos complexos paternos e maternos. São Paulo: Loyola, 1997.
PEREIRA F. A. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2002.
VITALE, A et al: Pais e mães: seis estudos sobre o fundamento arquetípico da psicologia da família. São Paulo: Símbolo, 1979.
Trailler do filme beleza americana:
Any Miranda
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